'No Tempo de Martinho Árias'
Recriação Histórica
Um rapazinho, filho de gente humilde, que nasceu na aldeia de A-Branca, na zona de Albergaria-A-Velha. Um dia, quando o bispo de Coimbra, D Maurício, passou por essa aldeia percebeu que o pequeno Martinho era um rapaz esperto e com grande vontade de aprender e, com autorização do pai, levou-o para a Sé de Coimbra, onde Martinho fez os seus estudos e se tornou cónego. Devido ao seu trabalho e estudo, assim como à sua predisposição em auxiliar os outros, tornou-se presbítero, ou seja um padre administrador.
O bispo de Coimbra, em 1123, nomeia Martinho Árias presbítero de Soure com a obrigação de cuidar, da alma e do corpo, das gentes de Soure, assim como de erguer a igreja de Soure. Toda esta zona estava abandonada há cerca de 7 anos, devido a um ataque árabe que fez com que as pessoas, com medo, fugissem, ao ponto de terem queimado os seus pertences antes de fugirem.
Martinho Árias inicia então a viagem de Coimbra a Soure, mas ao longo do caminho sofre vários percalços. É assaltado, dizem que no pinhal da Ega, e pouco traz com ele quando chega junto às ruinas do castelo de Soure.
As poucas gentes que por aqui andavam quando viram um homem sem nada, sujo e cansado da viagem, desconfiaram do que dizia Martinho Árias, e muito menos que ele tivesse como missão a edificação de uma igreja em Soure.
Martinho Árias regressou, então, a Coimbra e perante o bispo disse que só regressaria a Soure se o bispo lhe entregasse uma carta, um documento onde constasse a entrega dos seus direitos em Soure e assim, provar, aos desconfiados habitantes de Soure, o seu propósito.
O bispo de Coimbra assim fez e Martinho Árias, agora com seu irmão Mendo Árias, regressa a Soure, não sem antes se munir dos cuidados que exigia fazer esta viagem, de cerca de 6 léguas, de forma a assegurar o transporte dos pertences necessários para a sua missão e a segurança de cada um deles.
É desta forma que as gentes de Soure passam a contar com Martinho Árias.
Martinho Árias não se dedica apenas à doutrinação religiosa dos sourenses, mas participa nos trabalhos de recuperação e construção das casas, assim como no arroteamento e cultivo das terras. Com as suas próprias mãos plantou árvores, semeou cereais, plantas e outras lavouras agrícolas; construiu e reconstruiu casas, armazéns e adegas, fez justiça, rezou, ensinou a rezar, e evangelizou as gentes que habitavam em Soure. Deu o exemplo!
Os cerca de 20 anos de presença de Martinho Árias e seu irmão Mendo, permitiram realizar melhorias a nível religioso, social e económico, em Soure. Martinho inicia a construção da igreja e, através do poder da palavra e do exemplo, cativa todos para essa obra que passará a ser a casa de todos os habitantes de Soure. A sensação de segurança e tranquilidade era já uma realidade. Sempre, pelo exemplo, Martinho Árias contribuiu para a crescente fixação de pessoas nesta zona de fronteira – FinisTerra.
Mas, em 1144 Soure é palco de nova investida árabe e nem a presença dos cavaleiros templários evitaram a captura de Martinho que, mais uma vez, pelo exemplo participou na batalha tendo sido feito prisioneiro e levado para Santarém seguindo para Évora e depois para Sevilha e Córdova.
Martinho Árias, apesar de preso em prisões terríveis, continuou a evangelizar e a apoiar os outros. Sabemos também, que profetizou, para breve, a conquista de Santarém pelos cristãos aos mouros, o que veio a acontecer em 1147, data em que são resgatados, por D. Afonso Henriques, os prisioneiros feitos em Soure, mas ele já não estava lá…
Morre a 31 de janeiro de 1145, em Córdova, tornando-se o primeiro santo mártir de Portugal.
Paula Gonçalves - Bibliotecária Municipal